terça-feira, 3 de junho de 2014

O DOM DE LÍNGUAS III - O PROBLEMA DAS LÍNGUAS EM ATOS E CORINTOS


Introdução
Muitas são as divergências a respeito do significado do falar em línguas nos dias do Novo Testamento.
 
Nós, os batistas, temos historicamente os seguintes pensamentos:
• O dom de línguas é um dom e um sinal. Ele é um “dom-sinal”;
• O dom de línguas foi dado para falar uma língua estrangeira e não conhecida por aqueles que falam. Os textos que indicam a afirmação são os seguintes: I Coríntios 12.4; 8-10; 13.8; Atos 2.6-8;
• O dom de línguas foi um sinal para autenticar o evangelho na experiência da igreja cristã primitiva. Os textos que indicam a afirmação são os seguintes: Marcos 16.17; Atos 2.4; 10.45,46; 19.6; I Coríntios 13.8 e 14.22.
 
• O dom de línguas foi uma experiência temporária sobre alguns povos cristãos para servir como um sinal para autenticar o evangelho no seu estágio inicial.
 
AS LÍNGUAS DE ATOS E AS LÍNGUAS DE CORÍNTIOS
Alguns estudiosos da Bíblia acham que há uma marcante diferente entre o dom de línguas em Atos e o dom de línguas em I Coríntios.
 
A posição sustentada por muitos é que no livro de Atos, o dom de línguas era a habilidade dada a uma pessoa para falar uma estrangeira sem tê-la aprendido, enquanto o dom de línguas em I Coríntios era aquela de expressão arrebatada.
 
Outros acreditam que o dom de línguas é o mesmo em Atos e em I Coríntios.
 
Theodore H. Epp e John I. Paton, escrevendo o livro “O uso e abuso das línguas” , afirma que a mesma palavra usada em I Coríntios para descrever o Dom é usada no livro de Atos (Atos 10.46; 19.5; I Coríntios 14.15). Para ele a terminologia é idêntica nos dois livros e que não existe nada no contexto de I Coríntios que surgira qualquer outra coisa do que línguas.
 
Mas aqui surge uma pergunta: Porque, então, os crentes em Corinto tiveram o dom de línguas?
 
Eis algumas possíveis respostas:
Se eles tivessem de fato o dom em absoluto, o mesmo já estava no estágio de cessação. Aqui observamos os seguintes:
• O dom não é mencionado em II Coríntios;
• O dom não é mencionado nas outras Cartas paulinas;
• O dom não é mencionado nas Cartas Gerais;
• O dom não é mencionado no livro de Apocalipse.

É possível que a prática do povo gentil tenha influenciado os crentes de Corinto. O culto à deusa Afrodite, conhecida em latim como Vênus, admitia o culto em que se falava em línguas.
 
Pode ser que o dom fosse genuíno, sendo uma extensão do que havia acontecido em Éfeso, mas infelizmente algumas pessoas desviara o seu real significado e objetivo deixando o mesmo em pé de igualdade do que era praticado nos templos pagãos.
 
A CESSAÇÃO DAS LÍNGUAS
Como já sabemos, o falar em línguas foi um dom-sinal de natureza temporária. Alguns dons miraculosos da era apostólica cessaram.
 
O dom de línguas foi um dos dons temporários que servia para autenticar o evangelho, e quando consumado, o mesmo foi retirado.
 
Vejamos algumas considerações:
As Escrituras indicam que as línguas cessariam;
Alguns estudiosos discordam da posição que tomamos, no entanto, quando lemos I Coríntios 13.8,9., vemos que não só o Dom de línguas, mas outros dons cessariam. Em outras palavras, os dons desaparecerão quando o conhecimento do plano de Deus se tornar completo.
 
Mas isso é possível? Sim, é.
Na revelação progressiva de Deus ao homem, notamos que algumas coisas comuns e válidas no Velho Testamento, não tem mais sentido para os nossos dias.
 
A exemplo da própria atuação do Espírito Santo na história da revelação.
 
O silêncio de todas as outras epístolas sobre o assunto das línguas indica a natureza temporária do dom.
 
Observamos que o dom de línguas não é encontrado nas listas dos dons encontradas em Romanos 12.6-8 e nem em Efésios 4.11.
 
Também o Dom não é referido:
• Nas Epístolas de Paulo;
• Nas Epístolas Pastorais: I e II Timóteo e Tito;
• Na Carta aos Hebreus;
• Nas Epístolas Gerais: Tiago, I e II Pedro, I,II, III João e Judas;
• Nunca mencionado em Apocalipse.
 
A natureza das línguas como um dom-sinal indica que as línguas cessariam
A prova é que em I Coríntios 14.22, lemos: “de modo que as línguas são um sinal” .

Um sinal para que? Para validar o evangelho durante os dias transitórios da era apostólica enquanto o Novo Testamento estivesse sendo concluído.
 
Logo, quando a autenticação foi concluída, o dom-sinal cessou.
 
Na realidade os dons miraculosos não são necessários para a perfeição dos salvos,  nem para a obra do ministério, nem para edificação do corpo de Cristo.
 
Refiro-me aos dons miraculosos. Outros dons existem que são extremamente necessários no corpo de Cristo, a igreja.
 
A história da Igreja Cristã Primitiva indica que as línguas cessariam.

Vejamos a posição de alguns teólogos mundialmente aceitos e que tem suas opiniões valorizadas:
Crisóstomo (347-407 d.C).

“Este lugar inteiro é muito obscuro: mais a obscuridade é produzida pela nossa ignorância dos fatos referidos e pela cessação, sendo tal como costumava ocorrer, mas agora não toma lugar por mais tempo”.
 
Augustinho
“nos tempos mais primitivos o Espírito Santo desceu sobre eles que criam: e eles falaram em línguas, que não tinham aprendido, quando o Espírito dava-lhes o Dom da palavra. Estes foram sinais adaptados ao tempo. Pois ai coube ser aquele sinal do Espirito Santo em todas as línguas, para mostrar o evangelho de Deus para extender-se a todas as línguas sobre toda a terra. Aquela coisa feita por um sinal, e ele passou”.
 
O PROBLEMA DAS LÍNGUAS NA IGREJA DE CORINTO
Observamos que Paulo não lidou com o Dom de línguas na igreja de Corinto, como se ele fosse uma vantagem espiritual, mas como um perigo e um problema.
 
Vejamos em detalhe I Coríntios 14:
O problema de colocar “as línguas” acima dos dons mais importantes (v 1,2).
Os crentes de Corinto estavam colocando “as línguas” acima do amor e proclamação do evangelho.
O problema do egocentrismo (v 3-5)
Os crentes de Corinto promoviam o egocentrismo, o farisaísmo e a divisão no meio da igreja.
O problema de não ser entendido (v 6-11)
Os crentes da Igreja em Corinto não estavam transmitindo corretamente a mensagem cristã.
 
Paulo usa três ilustrações para chamar a atenção para o erro que eles estavam cometendo:
• Instrumento de música dando um som deturpado(v7);
O que quer dizer que o falar em línguas é como um instrumento musical fora do tom e dado sons deturpados e indistintos.
• O sonido de uma corneta de guerra emitindo um som incerto (v 8,9);
O que quer dizer que o falar em línguas é como uma corneta de guerra com um som indefinido e sem sentido.
• A fala de um estrangeira que não pode ser entendida (v 10,11).

O que quer dizer que o falar em línguas é como um bárbaro que fala numa língua estranha.
 
O problema de buscar o dom de línguas (v 12-17).
Eles não tinham que buscar este Dom, mas sim, buscar as coisas que edificariam a Igreja.
 
O problema de exaltar as línguas sobre a proclamação do Evangelho (v 18,19).
Eles tinham o Dom de línguas como sendo superior ao anúncio das boas novas.
 
O problema da maturidade espiritual (v 20)
Eles eram imaturos e carnais. Isso quer dizer que o Dom de línguas não é avanço espiritual, ao contrário, é um sinal de falta de imaturidade espiritual.
 
O problema da natureza temporária das línguas (v 21,22)
As línguas eram um sinal para autenticar e confirmar o evangelho na era apostólica.
 
O problema de por em perigo a tarefa evangelística ( v. 23-25)
Eles no desejo de falar em línguas, tinham deixado o mais importante de lado, a evangelização dos perdidos.
 
O problema da regulamentação do dom tendo em vista o seu fim, ou cessação (v 26-40)
Paulo como um missionário diplomata e habilidoso, em vez de condenar o Dom, estabeleceu algumas regras que governariam até o tempo de cessação, até a fase final.
 
Vejamos as orientações paulinas:
• Deve estar edificando a igreja, v 26;
• Não mais que dois ou três estejam para falar em cada reunião, v 27;
• Apenas um tem de falar em cada vez, v 27;
• Deve haver alguém para interpretar, v 28;
• Os participantes precisam disciplinar, v 29-33;
• As mulheres são proibidas de falar em línguas, v 34,35;
• Os que falavam deviam guardar-se contra a arrogância, v 36,37;
• Não deviam discutir sobre o assunto, v 38
• Não deviam proibir que se falassem em línguas, v 39
• Tudo indica que o fato de Paulo não proibir o falar em línguas, estava ligado ao tempo apropriado, o que seria o período de tempo antes da cessação;
• A prova é que ele proibiu as mulheres que falassem, com certeza, ele teve motivo para proibir.
 
Conclusão
Como conclusão das lições até aqui apresentadas, podemos afirmar os seguintes:
• Os grandes homens de Deus na história da igreja cristã não falaram em línguas;
• A doutrina básica atrás da prática das “línguas estranhas” é errada: que doutrina é? A doutrina de que a evidência de que alguém é batizado com o Espírito Santo é o falar em línguas.
• Através da história do cristianismo “o falar em línguas” tem sido visto como uma heresia;
• Até onde sabemos, nenhum idioma tem sido falado pelo povo que diz falar em línguas;
• As línguas podem ser imitadas por demônios;
• Não existe evidência que o “falar em línguas” tenha sido difundido no meio da igreja cristã primitiva;
• As “línguas” falada nos grupos pentecostais e carismáticos não passam de sons inarticulados e desconexos, não podendo ser interpretado como o Dom de lín-guas;
• O “falar em línguas” vista nos grupos pentecostais e carismáticos não passa de expressões vagas, sons inarticulados e desconexos, não podendo ser conside-rado como “línguas estrangeiras”.

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