sexta-feira, 31 de outubro de 2014

OS LIVROS APÓCRIFOS DO VELHO TESTAMENTO


O âmbito mais crucial de desacordo a respeito do cânon do Antigo Testamento entre os cristãos é o debate sobre os chamados livros apócrifos.´
 
Em suma: esses livros são aceitos pelos católicos romanos como canônicos e rejeitados por protestantes e judeus.
 
Classificação dos livros no processo de canonização tanto no Velho como no Novo Testamento.

Os termos são aplicados tanto no Velho como no Novo Testamento.
 
O termo “apócrifo”  era u termo técnico antes do concílio de Trento,  não se constituindo o mesmo uma afronta a decisão tomada pelos católicos romanos, por optarem pela aceitação dos referidos livros como canônicos na categoria de “deuterocanônico”.
 
A definição do termo “apócrifos”
Na realidade, os sentidos da palavra apocrypha refletem o problema que se manifesta nas duas concepções de sua canonicidade.
 
No grego clássico, a palavra apocrypha significava “oculto” ou “difícil de entender”. Posteriormente, tomou o sentido de esotérico, ou algo que só os iniciados podem entender, não os de fora.
 
A Quantidade de livros apócrifos
Há quinze livros chamados apócrifos (catorze se a Epístola de Jeremias se unir a Baruque, como ocorre nas versões católicas de Douai).
 
Com exceção de II Esdras, esses livros preenchem a lacuna existente entre Malaquias e Mateus e compreendem especificamente dois ou três séculos antes de Cristo.
 
Veja a relação dos livros apócrifos antes de ser condensados ou aceitos como apêndice em outros livros.

Gênero Nome original - Versão padrão e Data Onde se encontra na versão atual.

Didático 
1. Sabedoria de Salomão – 30 aC  - Sabedoria (Livro)
2. Eclesiástico (Siraque) – 132 aC  - Eclesiástico (Livro)
 
Religioso
3. Tobias – 200 aC - Tobias (Livro)
 
Romance 
4. Judite – 150 aC - Judite (Livro)
 
Histórico
5. I Esdras – 150 –100 aC - Não foi aceito como canônico em Trento
6. I Macabeus – 110 aC I -  Macabeus (Livro)
7. II Macabeus – 110 – 70 aC - II Macabeus (Livro)
 
Profético
8. Baruque – 150 – 50 aC - Baruque 1 – 5 (Livro)
9. Epistola de Jeremias – 300 – 100 aC - Baruque 6 (Apêndice)
10. II Esdras 100 dC - Não foi aceito como canônico em Trento
 
Lendário
11. Adições de Ester – 140 – 110 aC - A , 1-17;  B, 1-15; C, 1-30; D, 1-15; E, 1-24; 9.19a; F, 1-11. (Apêndices)
12. Oração de Azarias – Séculos I ou II aC - Daniel 3.24-90
13. Susana – Século I ou II aC - Daniel 13 (Apêndices)
14. Bel e o Dragão – 100 aC - Daniel 14 (Apêndices)
15. Oração de Manassés – Século I ou II aC - Não foi aceito como canônico em Trento
  
Observe que no Concílio de Trento (1546) dos 14 ou 15 livros tidos tecnicamente como apócrifos, apenas 12 foram aceitos como canônicos, 03 foram rejeitados(I, II Esdras e Oração de Manassés), sendo que, 07 foram tidos como livros fechados(Tobias, Judite, I e II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico,  Baruque) e 05 (Epistola de Jeremias, Adições de Ester, Oração de Azarias, Susana, Bel e o Dragão) foram apensos em outros livros canônicos.
 
Argumentos em favor da aceitação dos apócrifos do Antigo Testamento
Os livros apócrifos do Antigo Testamento tem recebido diferentes graus de aceitação pelos cristãos.
 
A maior parte dos protestantes e dos judeus aceita que tenham valor religiosos e mesmo histórico, sem terem, contudo, autoridade canônica.
 
Os católicos romanos desde o Concílio de Trento tem aceito esses livros como canônicos. Mais recentemente, os católicos romanos tem defendido a idéia de uma deuterocanonicidade.
 
As argumentações a favor da aceitação dos livros apócrifos são as seguintes:
Alusões no Novo Testamento
O Novo Testamento reflete o pensamento e registra alguns acontecimentos dos apócrifos. Por exemplo, o livro de Hebreus fala de mulheres que receberam seus mortos pela ressurreição (Hb 11.35) e faz referência a II Macabeus 7 e 12.
 
Emprego que o Novo Testamento faz a versão dos Septuaginta
A tradução grega do Antigo Testamento hebraico, em Alexandria, é conhecida como Septuaginta (LXX). É a versão mais citada pelos autores do Novo Testamento e pelos cristãos primitivos. A LXX continha os livros apócrifos.
 
Os mais antigos manuscritos da Bíblia
Os mais antigos manuscritos gregos da Bíblia contêm os livros apócrifos inseridos entre os livros do Antigo Testamento.
 
A arte cristã primitiva
Alguns dos registros mais antigos da arte cristã refletem o uso dos apócrifos.
 
Os primeiros pais da igreja
Alguns dos mais antigos pais da igreja, de modo particular os do Ocidente, aceitaram e usaram os livros apócrifos em seu ensino e pregação.
 
A influência de Agostinho
Agostinho (354-430) elevou a tradição ocidental mais aberta, a respeito dos livros apócrifos, ao seu apogeu, ao atribuir-lhes categoria canônica. Ele influenciou os concílios da igreja, em Hipo (393 dC) e em Cartago (397 dC.), que relacionaram os apócrifos como canônicos. A partir de então, a igreja ocidental passou a usar os apócrifos em público.
 
O Concílio de Trento
Em 1546, o concílio católico romano do pós-Reforma, realizado em Trento, proclamou os livros apócrifos como canônicos, declarando o seguinte:
 
“O sínodo (...) recebe e venera (...) todos os livros, tanto do Antigo Testamento como do Novo (incluindo-se os apócrifos) – entendendo que um único Deus é o Autor de ambos os testamentos (...) como se houvessem sido ditados pela boca do próprio Cristo, ou pelo Espírito Santo (...) se alguém não receber tais livros como sagrados e canônicos, em todas as suas partes, da forma em que tem sido usados e lidos na Igreja Católica (...) seja anátema”.
 
Desde esse concílio de Trento, os livros apócrifos foram considerados canônicos detentores de autoridade espiritual para a Igreja Católica Romana.
 
Uso não-católico
As Bíblias protestantes desde a Reforma com freqüência continham os livros apócrifos. Na verdade, nas igrejas anglicanas os apócrifos são lidos regularmente nos cultos públicos, ao lado dos demais livros do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Os apócrifos são também usados pelas igrejas de tradição ortodoxa oriental.
 
A comunidade do mar Morto
Os livros apócrifos foram encontrados  entre os rolos da comunidade de mar Morto, em Qumram. Alguns haviam sido escrito em hebraico, o que seria indício de terem sido usados por judeus palestinos antes da época de Jesus.
 
As argumentações contrárias a aceitação dos livros apócrifos são as seguintes:
Os oponentes dos livros apócrifos tem apresentado muitas razões para excluí-los do rol de livros canônicos.
 
A comunidade judaica jamais aceitou os livros apócrifos como canônicos;
Os livros apócrifos não foram aceitos por Jesus, nem pelos autores do Novo Testamento;
A maior parte dos primeiros pais da igreja rejeitou a canonicidade dos livros apócrifos;
Jerônimo, o grande especialista bíblico a tradutor da Vulgata, rejeitou fortemente os livros apócrifos;
Muitos estudiosos católicos romanos, ainda ao longo da Reforma rejeitaram os livros apócrifos;
Nenhuma igreja ortodoxa grega, anglicana ou protestante, até a presente data, reconheceu os apócrifos como inspirados e canônicos, no sentido integral dessas palavras.