sábado, 23 de agosto de 2014

SOTERIOLOGIA - DOUTRINA DA SALVAÇÃO: OS CONCEITOS BÁSICOS DA DOUTRINA DA SALVAÇÃO

 
Por Francisco Fernandes
 
Introdução
Os conceitos trabalhados no presente texto tem como objetivos esclarecer temas centrais da Soteriologia, isto é a Doutrina da Salvação.
 
Cada vez mais escuto pregadores protestantes e evangélicos em seus sermões tratarem a Doutrina da Salvação conforme os moldes da Igreja Católica Apostostólica Romana, imbutindo de maneira sutil a salvação pela obras ou por méritos.
 
Ouvir uma padre ou orador Católico pregar a salvação por méritos é algo comum e aceitável pois afinal isso faz parte da doutrina Católica, mas ouvir de um pastor, evangelista, ou cristão protestante e/ou evangélico atribuir a salvação méritos humanos é desconsiderar toda a Doutrina da Salvação pregada pelos Pais da Igreja e posteriormente pelos Reformadores.
 
Daí a necessidade de uma explicação mais profunda e abrangente de alguns termos normalmente usados na ação salvadora que tem origem em Deus.
 
CONVERSÃO
Vocábulos do Velho Testamento - Hebraico
Nacham, que serve para expressar um profundo sentimento, ou tristeza.

Shubh, palavra mais comum para conversão, significa volver, voltar-se, virar e retornar.
 
Vocábulos do Novo Testamento - Grego
Metanoia, palavra mais comum para conversão no Novo Testamento, e também é o mais fundamental dos termos empregados.

Epistrophe, a Segunda palavra em importância depois de Metanoia. A palavra indica o ato final da conversão.
 
Conversão é o ato do pecador abandonar o pecado, para seguir a Jesus Cristo. A Conversão inclui arrependimento e fé; isto é, inclui o ato de abandonar o pecado e de seguir a Jesus Cristo, aceitando-o como salvador.
 
A conversão é resultado da liberdade do homem. É um ato praticado pelo próprio homem.

Na conversão o homem escolhe uma vida nova em resposta aos apelos que lhe são feitos pelo evangelho.
 
A conversão pode e deve repetir-se todas as vezes em que o homem pecar e afastar-se de Deus, porque ela consiste no ato de abandonar o pecado e aproximar-se de Deus(Lc 22.31,32; Jo 3.10).
 
REGENERAÇÃO
Vocábulos gregos que expressam regeneração.

Palingenesia,  que quer dizer: gerar, gerar de novo, dar a luz, dar nascimento.

Apokyeo, quer dizer: dar à luz, gerar, produzir.

Syzoopoieo, quer dizer: dar a vida com, vivificar com.
 
Regeneração é o ato inicial da salvação, em que Deus faz nascer de novo o pecador perdido, dele fazendo uma nova criatura em Cristo.
 
A regeneração é obra do Espírito Santo, em que o pecador recebe o perdão, a justificação, a adoção como Filho de Deus, a vida eterna e o Dom do Espírito Santo.
 
Na regeneração somos batizados no Espírito Santo, sendo por ele selado para o dia da redenção final, e é liberto do castigo eterno dos seus pecados.
 
Na obra da regeneração o homem é passivo, não havendo lugar para a cooperação do homem.
A regeneração é um ato instantâneo, que se dá uma só vez na vida.
 
A regeneração não é um processo. A preparação para a regeneração pode ser um processo.

Como a nascimento, a regeneração é um ato instantâneo, que se verifica uma só vez na vida da pessoa.
 
Uma definição completa:
Regeneração é uma mudança radical, operada pelo Espírito Santo na alma do homem, por intermédio da verdade evangélica, mudança pela qual se transforma completamente a disposição moral do homem, que se restaura de novo, na semelhança de Deus e se une a Jesus Cristo, a quem aceita como seu bendito e eterno Salvador.
 
NOVO NASCIMENTO
O novo nascimento é praticamente o mesmo que regeneração.
 
É o princípio da nova vida espiritual que Deus dá a quem,  até sua conversão, estava “morto nos delitos e pecados”, ou seja, espiritualmente morto para Deus, e que agora começa a “viver”, ou “passa da morte para a vida” (I Jo3.14).
 
Note-se bem: a conversão é o ato voluntário do homem; o Novo Nascimento é obra exclusiva de Deus, que não deixa de operá-la no momento em que o homem se converte.
 
Importante: para que aconteça a regeneração é necessário que o homem se converta, ou melhor, se arrependa de seus pecados e ponha sua fé em Jesus Cristo.
 
DIFERENÇA ENTRE OS VOCÁBULOS: REGENERAÇÃO E NOVO NASCIMENTO
Encontramos uma sutil diferença entre ao dois termos, a saber:
Regeneração é a geração, a produção da nova vida; o princípio da nova vida na alma.

Novo nascimento é o dar a luz, o nascimento; o princípio da nova vida na alma que se põe a afirmar-se em ação.
 
JUSTIFICAÇÃO
Vocábulo no Velho Testamento – Hebraico.

Hitsdik, que, na grande maioria dos casos, significa “declarar judicialmente que o estado de uma pessoa está em harmonia com as exigências da lei”.
 
Vocábulo no Novo Testamento – Grego
Dikaioo, verbo que em geral, se refere a “declarar que uma pessoa é justa”.
 
A justificação ocorre simultaneamente com a regeneração. É o ato pelo qual Deus, considerando os méritos do sacrifício de Cristo, absolve, no perdão, o homem de seus pecados e o declara justo, capacitando-o para uma vida de retidão diante de Deus e de correção diante dos homens.
 
É ainda o ato de Deus, em que ele declara o pecador regenerado; não somente livre da condenação, mas também restaurado à graça divina.
 
A base da justificação se encontra em Cristo e não no homem.
 
A condição para a justificação é a fé em Jesus Cristo. O homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.
 
A justificação dá-se uma só vez na vida do crente, e isto logo no começo da vida cristã. Deus nos justifica na mesma hora em que nos regenera o Espírito Santo.
 
A justificação garante ao homem o direito de entrar livremente e desembaraçadamente na presença de Deus.
 
A justificação remove a culpa do pecado e restaura o pecador a todos os direitos filiais envolvidos em seu estado de filho de Deus, incluindo uma herança eterna.
 
A justificação dá-se fora do pecador, no tribunal de Deus, e não muda  a sua vida interior, embora a sentença lhe seja dada a conhecer na vida interna do homem.
 
SANTIFICAÇÃO
Vocábulo no Velho Testamento – hebraico.
Qadash, verbo, o vocábulo provavelmente quer dizer brilhar.

Vocábulo no Novo Testamento – Grego
Hagiazo, expressa primariamente a idéia de separação.
 
O termo é empregado de várias formas, como por exemplo: no sentido moral, com referência a pessoas ou coisas; ocasionalmente, num sentido ritual; empregado para denotar a operação de Deus pela qual, ele, especialmente por intermédio do seu Espírito, produz no homem a qualidade subjeti-va da santidade.
 
Hieros, descreve uma pessoa ou coisa como livre de profanação ou de iniquidade, ou mais ativamente, como cumprindo religiosamente toda a obrigação moral.

Hagnos, a idéia fundamental da palavra é a de liberdade da impureza e corrupção, num sentido ético.
Hagios, expressa adquirir uma significação ética.
 
Santificação é o processo que, principiando na regeneração leva o homem à realização dos propósitos de Deus para sua vida e o habilita a progredir em busca da perfeição moral e espiritual de Jesus Cristo, mediante a presença e o poder do Espírito Santo que nele habita.
 
A santificação ocorre na medida da dedicação do crente e se manifesta através de um caráter marcado pela presença e pelo fruto do Espírito, bem como por uma vida de testemunho fiel e serviço consagrado a Deus e ao próximo.
 
A santificação é o cultivo da vida espiritual para que a pessoa se aproxime mais da perfeição que há em Deus.
 
A regeneração torna a árvore boa, a santificação torna o fruto bom.
 
Na justificação, Deus justifica o injusto; mas na santificação, ele faz o injusto justo, e o ímpio santo.
Santificação é um processo pelo qual o crente se torna realmente santo e justo.
 
Na santificação, o crente alcança o alvo que Deus tinha em vista quando o regenerou.
 
A salvação como dádiva chama-se regeneração, mas como tarefa chama-se santificação. Não devemos no entanto, pensar que o homem pode santificar-se a si próprio. Ele não pode santificar, do mesmo modo que não se pode regenerar. Deus regenera e Deus santifica. Mas na santificação o homem não é tão passivo como na regeneração. Na santificação o crente precisa esforçar-se para progredir em santificação(Ef 6.10-28; II Co 10.5; Fil 2.12; I Pe 2.2).
 
O processo da santificação consiste numa luta sem tréguas entre as duas forças, mas a vitória final é certa.
 
A santificação é o processo de cristianizar o crente, e por isso mesmo é que ela é gradual.
 
A regeneração está para a santificação assim como o nascimento está para o crescimento. O crente, espiritualmente falando, pode nascer e continuar a ser criança.
 
A santificação consiste em duas partes:
A mortificação do velho homem, o corpo do pecado(Rm 6.6; Gl 5.24).

A vivificação do novo homem, criado em Cristo Jesus para as boas obras. Aqui a velha estrutura do  pecado vai sendo posta abaixo aos poucos, e uma nova estrutura  é erguida  em seu lugar. Esta faceta  positiva da santificação é chamada de ressurreição com Cristo(Rm 6.4,5; Cl 2.12; 3.1,2). A nova vida à qual ela conduz é chamada viver para Deus(Rm 6.11; Gl  2.19).
 
O processo de santificação é longo, e jamais alcança a perfeição nesta vida.

Ao que parece, a santificação do crente deve completar-se no exato momento da morte, ou imediatamente após a morte, no que se refere à alma, e na ressurreição, quanto ao concernente ao corpo.
 
RELAÇÃO DA SANTIFICAÇÃO COM OUTROS TERMOS DA ORDO SALUTIS (OBRA DE REDENÇÃO)
Santificação e Regeneração
Há aqui diferença e semelhança.
 
A regeneração é completada de uma vez, pois o homem não pode ser mais ou menos regenerado; está vivo ou morto espiritualmente.
 
A santificação é um processo que produz mudanças graduais, de sorte que é possível distinguir diferentes graus da santidade resultante. Daí, somos admoestados a aperfeiçoar a santidade, no temor do Senhor, II Co 7.1.
 
A regeneração é o princípio da santificação. A obra de renovação, iniciada naquela, tem prosseguimento nesta (Fp 1.6).
 
Santificação e Justificação
Na aliança da graça a justificação precede à santificação e lhe é básica. A justificação é a base judicial da santificação.
 
A justificação, como tal, não efetua mudança em nosso interior e, portanto, necessita da santificação como seu complemento. Não basta que o pecador tenha a posição de justo diante de Deus; é preciso também que ele seja santo em sua vida interior.
 
A justificação é o perdão do pecador pelo qual Deus declara justo o pecador. A santificação é a santificação do pecador, pela qual Deus declara “santo” o pecador.
 
Santificação e Fé
A fé é a causa mediata ou instrumental da santificação, como também da justificação. Não merece a santificação, como tampouco a justificação, mas nos une a Cristo e nos mantém em contato com aquele que é o cabeça da nova humanidade, a fonte da nova vida em nós, e também da nossa progressiva santificação, através da operação do Espírito Santo.
 
SANTIFICAÇÃO X IMPECABILIDADE
Alguns pregam a impecabilidade(Gnosticismo, neo-gnosticismo ou melhor, movimento do “novo nascimento” e seitas ligadas as Nova Era), mas tal doutrina não tem sustentação bíblica e prática.
 
A Bíblia nos dá explícita e mui definida segurança de que não existe ninguém na terra que não peque, I Rs 8.46; Pv 20.9; Ec 7.20; Rm 3.10; Tg 3.2; I Jo 1.8.
 
Segundo a Bíblia existe uma guerra constante entre a carne e o Espírito nas vidas dos filhos de Deus, e mesmo os melhores deles ainda estão lutando por perfeição, em sua existência terrena(Rm 7.7-26), passagem que certamente se refere a ele em seu estado regenerado. Em Gl 5.16-24 ele fala dessa mesma luta como sendo uma luta que caracteriza todos os filhos de Deus. Em  Fl 3.10-14 ele fala  de si próprio, praticamente no final de sua carreira, como alguém que ainda não alcançara a perfeição, prosseguindo avante para a meta.
 
Exigem-se continuamente a confissão de pecados e a oração pelo perdão. Jesus ensinou todos os seus discípulos, sem exceção nenhuma, a orar pelo perdão de pecados e pela libertação da tentação e do maligno(Mt 6.12,13). Além disso, os santos da Bíblia são constantemente descritos confessando os seus pecados (Jó 9.3; 20; Sl 32.5; 130.3; 143.2; Pv 20.9; Is 64.6; Dn 9.16; Rm 7.14).
 
Diante o que foi mencionado na definição sobre santificação, chegamos a conclusão de que nesta vida o crente jamais chegará a ficar completamente liberto do pecado.
 
No entanto, em Filipenses 3.4-14, Paulo deixa transparecer uma esperança. A esperança de chegar ao ponto, na sua vida, de ficar completamente liberto do pecado; a esperança de chegar aquele dia quando o crente não pecará mais.
 
Enquanto aqui na terra, o crente comete pecados, e até muitos. A vitória completa não se alcança aqui neste mundo. Desde o nascimento até a morte o crente tem que lutar, ora alcançando vitórias, ora sofrendo derrotas, mas o processo da santificação torna-se cada vez mais forte, e o pecado mais fraco.
Diante desses fatos, perguntamos: quando se libertará o crente, completamente do pecado?
 
Como já vimos não será nesta vida aquém da morte física. Mas certamente essa vitória gloriosa se realizará na vida do crente, e uma época chegará quando seremos isentos de todo e qualquer pecado.
 
O fim da santificação e da preservação tem que chegar em algum tempo; ou, pelo menos, há de chegar o crente a um estado em que estará livre do pecado.
 
Outras objeções a teoria da impecabilidade
A idéia tende a produzir naqueles que defendem um espírito de santificação própria e uma atitude farisaica para com os outros. Ficam julgando os outros.
 
Nunca é bom sinal para uma pessoa pensar que está livre do pecado. Quanto mais perto estamos de Deus, tanto menos aptos somos para pensar que estamos puros.
 
Normalmente quem defende a impecabilidade rebaixam o padrão de justiça. Por livres do pecado, tais pessoas entendem muitas vezes, livres de atos deliberados e conscientes de transgressão.
 
Perfeição: uma questão
E a perfeição? A Bíblia não diz que somos perfeitos?
Quando alguém vier discutir a perfeição, é bom saber primeiramente, o que entende por perfeição.
 
Qualquer pessoa poderia chegar um padrão de perfeição se a deixássemos rebaixá-lo suficientemente.
 
Qualquer pessoa poderia alcançar as estrelas se as pudesse aproximar da terra o suficiente.
 
O pecado não se extirpa completamente do coração do homem de uma só vez. Não se pode deixar de lamentar que os que defendem esse ponto de vista não vêem como deviam a natureza radical do pecado, e não compreendem a sua influência pertinaz sobre o homem.
 
Em I Co 2.6; Ef 4.13; Fil 3.15; Hb 5.14; 6.1, o vocábulo perfeito no grego indica um homem bem formado, bem desenvolvido e sincero.  Em alguns casos aparece a palavra “perfeito”, em outras “formado”.
 
Trataremos do assunto no próximo artigo “Refutando a idéia de perfeição e impecabilidade dos neo-gósticos, movimento do “novo nascimento”.
 
GLORIFICAÇÃO
A glorificação é o ponto culminante da obra da salvação. É o estado final, permanente, de felicidade dos que são redimidos pelo sangue de Cristo.
 
É o ato final do processo da salvação.

Em outra ocasião falaremos mais sobre a glorificação.
 
Conclusão
Diante do que foi apresentado, chegamos a conclusão de que a Salvação tem como origem e centro em Deus, através do sacrifício vicário de Cristo Jesus, cabendo ao ser humano apenas aceitá-la pela fé.
 
Todo cuidado é pouco para não atribuir ao homem o poder de salvação, portanto um estudo profundo desses conceitos são importantes para não corrermos o risco de passar para nossos ouvintes "meias verdades", pois as "meias-verdades" serão sempre "mentira".
 

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